HOFFMAN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto
Alegre: Mediação, 2ª edição, 2006, 192p.
Neste livro Jussara destaca o que
se tem visto é uma corrida desenfreada de instruções, de dar conta dos
conteúdos, de apostilas, de atividades e dos compromissos escolares. E nessa
correria muitos alunos ficam esquecidos no meio do caminho. O que pode ser
feito em termos de uma avaliação mediadora é “pensar em cada aprendiz de uma
sala de aula, acabando com os anonimatos, valorizando-os como sujeitos de sua própria
história, assumindo o compromisso, como educadores, de otimizar tempos e
oportunidades de aprender” (p. 15).
Para Hoffmann a avaliação
mediadora deve acontecer em três tempos: “1. tempo de admiração dos alunos;
2.tempo de reflexão sobre suas tarefas e manifestações de aprendizagem; e 3.
tempo de reconstrução das práticas avaliativas e/ou de invenção de estratégias
pedagógicas para promover melhores oportunidades de aprendizagem” (p. 18-19).
A autora explica cada um desses
tempos:
1- TEMPO DE ADMIRAÇÃO
“O tempo de admiração não se
inicia com o ano letivo, mas antes de o professor iniciar com os alunos,
pesquisando nos arquivos das instituições, resgatando suas histórias de vida, a
partir de entrevistas com eles, de conversas com seus professores de anos
anteriores e familiares, da análise de tarefas e da leitura de registros de
avaliação” (p. 21).
Esse primeiro tempo, para a
autora, é o de continuidade, o de compreender a vida do aluno, suas vivências
na família, na escola, na sociedade, compreender a sua história e as suas
possibilidades cognitivas. E para isso,
não existe tempo determinado, todos os dias, todos os momentos devem ser de
investigação e tentarmos verificar, no aluno, às dimensões em que deve ser
desafiado para avançar em todas as áreas do saber.
A compreensão do aluno se dá em
vários espaços, muitos momentos de diálogo com o próprio aluno, com a família,
seus amigos, colegas, professores, funcionários.
Jussara destaca que não podemos
nos abater, perder nosso entusiasmo diante das incerteza, mas sim fazer a
diferença, escutar, dialogar ao invés de “dados objetivos e mensuráveis que se
originam de uma visão classificatória e elitista” (p. 27).
O professor precisa provocar e
fazer acontecer as diferenças sejam elas de ideias, de sentimentos de
expressão, de jeitos de viver e de ser. É fundamental que o professor escute
seu aluno, desafie-o a escrever sobre o que sabe, o que sente, o que deseja. Buscar
a aproximação e confiança do aluno estabelecendo um diálogo intenso e “dizer
que se está cuidando para que aprendam mais, que se está muito preocupado com
ele, carinhosamente. Sem surpresas, sem mistérios” (p. 35).
Segundo Jussara o sentido da auto-avaliação
mediadora é o de que o aluno se perceba aprendendo e que ele tenha prazer e
curiosidade para querer aprender mais, superando suas dificuldades. E a autora dá algumas dicas para que isso
aconteça. Fazer o aluno “participar do processo todo o tempo, desde o primeiro
dia de aula, a partir do diálogo, de processos interativos, de desafios cognitivos,
apontando-lhe os avanços, vibrando com ele, escutando as perguntas que faz,
tornando-o mais curioso sobre tudo” (p. 36).
Hoffmann destaca a importância de
que o professor faça um dossiê dos alunos arquivando tarefas, textos, testes
para que se possa ter um conjunto de dados sobre sua aprendizagem.
É importante estar criando um
grupo de especialistas, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos entre outros
para apoiar e orientar no sentido de que direção, professores, coordenação
pedagógica saibam lidar com as dificuldades de relacionamento.
2-TEMPO DE REFLEXÃO
“Predispor-se a momentos de
pensar sobre o que se observa possibilita interpretar em termos didáticos,
epistemológicos e relacionais as situações de aprendizagem vividas pelos
estudantes, transformando as práticas avaliativas em mediadoras, no sentido de
serem intencionalmente construídas na direção de seus diferentes interesses e
necessidades” (p. 46).
Hoffmann destaca que “o processo
avaliativo destina-se a observar, refletir e favorecer melhores oportunidades
aos alunos na sucessão de etapas que constituem a dinâmica de sua aprendizagem”
(p. 53)
E ela insiste na seguinte
dinâmica da avaliação: Mediar a mobilização – Manter-se atento aos interesses
dos alunos, ajustando as atividades, introduzindo tarefas, novos textos,
mudando as situações e diversificando-as, providenciando recursos necessários.
“Esse é o tempo de assegurar o interesse dele em aprender, pela organização e
manutenção de um ambiente provocativo, significativo e adequado às suas possibilidades”
(p. 55)
Ao trabalhar com situações
interativas devemos assegurar o envolvimento dos alunos, comentando suas
soluções, seus avanços, fazendo-o refletir sobre as tarefas realizadas,
trabalhando em grupos para que pensem juntos sobre estratégias de resolução de
problemas, cooperando pela troca de argumentos, pelos comentários e pelos
desafios.
Para Jussara os trabalhos
escolares devem ser em horário de aula com o acompanhamento do professor nas
discussões e observe o aluno na sua individualidade. Os grupos devem ser sempre
variados.
Jussara evidencia que precisamos
de “olhares conscientes e reflexivos. Esse olhar reflexivo exige tempo e espaço
e não pode ser solitário, mas solidário e humilde. Exige também constância e
fundamentação” (p. 73)
3-TEMPO DE RECONSTRUÇÃO
Jussara relata as reformas
implementadas na Finlândia e destaca que é o país que se destaca em programas
de leitura; Também destaca sobre a reconstrução da educação na Malásia a partir
da diversidade e da multidimensionalidade de valores de seu povo.
A autora afirma que muitos são os
desafios para se colocar em prática uma avaliação mediadora: famílias que não
aceitam a abolição das notas e médias; adoção de apostilas que acaba que o
professor não decide as atividades, a seqüência dos temas; rotatividade de
professores; formação docente(curso superior e falta de leitura e estudos)
E já finalizando...
Hoffmann acredita que não podemos
ficar esperando as mudanças acontecerem, pois isso é ilusão. As condições
culturais, os recursos que temos são esses. Então precisamos cuidar das nossas
crianças e dos nossos jovens para que eles possam transformar o país que temos.
“Quando se toma consciência de
algo, quando se entende uma questão em profundidade, em sua essência,
destacando-se o que é relevante dentre o que pode ser visto e sentido, então se
está avaliando este algo. Este algo, agora, parte de quem avalia. Não há como
ficar de fora, passa a ser uma esperança vivida: um inédito-viável” (p. 121)
E Jussara termina a primeira
parte convidando para virar o livro do avesso e começar de novo pois como diz
ela, “o essencial no jogo do contrário em avaliação é DUVIDAR SEMPRE DO
PRIMEIRO OLHAR!” (p. 121)
A segunda parte ......
Fica para cada um ler e postar seus comentários