HOFFMAN, Jussara. Avaliação: mito e desafio: uma
perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2005, 35ª ed.revista. 104p..
Neste livro Hoffmann destaca que vários professores têm
voltado suas atenções para o processo de avaliação educacional, pois “a
avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida
como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação.” (p. 15)
A autora coloca que a ação classificatória e autoritária,
exercida pela maioria dos educadores encontra explicação na sua concepção de
avaliação que é reflexo de suas vivências como educando e como educador. Mas é
preciso iniciar um diálogo, reflexões, aprofundamentos teóricos, visão ampla e
detalhada de sua disciplina, para que essa avaliação seja transformada em
perspectiva de construção do conhecimento, permitindo, assim, estabelecer
conexões entre as hipóteses dos alunos e os conhecimentos científicos. Dessa
forma “a avaliação deixa de ser um momento terminal do processo educativo (como
hoje é concebida) para se transformar na busca incessante de compreensão das
dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de
conhecimento” (p. 19).
“A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa,
que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua
realidade, e acompanhamento de todos os passos do educando na sua trajetória de
construção do conhecimento” (p. 17). Para Hoffmann uma nova perspectiva de
avaliação exige que o educador seja sujeito de seu próprio desenvolvimento,
seja autônomo intelectual e moralmente, crítico, criativo e participativos.
Nesse processo os erros dos alunos são vistos como significativos e importantes
para impulsionar ações educativas que permitem ao professor observar e
investigar os posicionamentos dos seus alunos. “Nessa dimensão, avaliar é dinamizar
oportunidades de auto-reflexão, num acompanhamento permanente do professor que incitará
o aluno a novas questões a partir de respostas formuladas” (p. 18-19).
Para Jussara a tarefa de avaliar não é fácil e o maior
desafio está em ampliar o número de professores preocupados com o tema
avaliação e que as discussões do interior das escolas se estendam a toda a
sociedade. “Compreender e reconduzir a avaliação numa perspectiva
construtivista e libertadora exige, no meu entender, uma ação consensual nas
escolas e universidades no sentido de revisão do significado político das
exigências burocráticas dos sistemas municipais, estaduais e federal de
educação”(p. 24).
É preciso entender a “ação avaliativa como interpretação cuidadosa e abrangente das
respostas do educando frente a qualquer situação proposta, assim como a visão
de acompanhamento, não como um caminho de certezas do professor, mas uma
trajetória de entendimento, troca de idéias por ambos os elementos da ação
educativa” (p. 33)
Jussara considera o ato de atribuir notas e conceitos uma
arbitrariedade e que, muitas vezes, isso acontece utilizando métodos
impressionistas e de comparação.“O que percebo é que a compreensão de muitos
professores é de que “tudo pode ser medido”, sem que se dêem conta de que
muitas notas são atribuídas arbitrariamente, ou seja, por critérios
individuais, vagos e confusos, ou precisos demais para determinar situações” (p.
41). Hoffmann considera o uso de nota “um mecanismo privilegiado de competição
e seleção nas escolas”. P. 45
A autora se pergunta qual a finalidade dos testes em
educação? Para que serve? O que nós professores fizemos após um teste ou
trabalho? Escrevemos, precisa estudar mais, ter mais atenção, respostas
completas? Apontamos as dificuldades, mas não tratamos de resolvê-las. “Toda e
qualquer tarefa realizada pelo aluno deveria ter intencionalidade básica a investigação”
(p. 48-49).
Nesse sentido a autora destaca que as atividades e tarefas
propostas aos alunos devem sofrer muitos questionamentos por parte do
professor:
- Em que medida a tarefa proposta possibilita ao aluno a organização de idéias de forma própria, individual?
- O questionamento realizado permite a construção de variadas alternativas de solução?
- Qual a relação que a tarefa sugere com esta e outras áreas do conhecimento?
- As ordens dos exercícios são suficientemente claras, esclarecedoras ao aluno em termos das possibilidades de respostas? ( p. 490
Jussara registra alguns questionamentos que nós professores
precisamos fazer: Por que atribuímos notas a qualquer atividade que o aluno
desenvolva? Por que usamos canetas vermelhas para corrigir? Por que calendários
de provas? Atestados médicos? Obrigar as crianças a usar caneta? Por que
apavoramos as crianças sobre uma prova? Em que medida estamos impondo nossas
respostas no momento de uma correção? O
que meu aluno compreende? Por que não compreende? Por que avaliamos?
Para Jussara o ato de avaliar é “ação, movimento,
provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre os elementos da
ação educativa”( p. 57). “As respostas das crianças, dos jovens, oferecem
imensas possibilidades de análise em termos de perspectivas diferenciadas e/ou
contraditórias às do adulto sobre fenômenos que estão sendo estudados” (p. 56)
Jussara destaca a importância de “acompanhamento pelo
professor das tarefas realizadas pelo educando em todos os graus de ensino. Só
que esse acompanhar abandona o significado atual de retificar, reescrever,
sublinhar, apontar erros e acertos. E se transforma numa atividade de pesquisa
e reflexão sobre as soluções apresentadas pelo aluno, anotando respostas
diferentes, questões não respondidas, registrando-se relações entre soluções
apresentadas por ele” (p. 66)
Nesse sentido a autora destaca algumas ações no processo
educativo em busca de uma avaliação mediadora visando essencialmente o
entendimento: diálogo; valorização; confiança mútua; troca de conhecimento; acompanhamento;
pesquisa e reflexão; investigação das soluções do educando; privilégios a
tarefas intermediárias, mas sem registros burocráticos; privilégio ao
entendimento e não a memorização; ações coletivas e consensual; postura
cooperativa.
E para finalizar Hoffman enfatiza que “enquanto avaliamos,
exercemos um ato político, mesmo quando não pretendemos. Tanto as ações
individualizadas, quanto a omissão na discussão dessa questão reforçam a
manutenção das desigualdades sociais. A avaliação, na perspectiva de uma
pedagogia mediadora, é uma prática coletiva que exige a consciência crítica e
responsável de todos na problematização das situações” ( p. 91).
As avalições hoje são mais diversificadas, no entanto ainda se constituem com o ranço eliminatório. A classficação tem servido para continuar o estabelecimento da desigualdade social e cultural.
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