Essa leitura eu indico a todos os professores e gestores.
Precisamos conhecer mais para atuarmos de forma mais participativa e democrática. Precisamos nos fartar de saberes para que consigamos melhorar a realidade em que estamos inseridos.
Uma educação melhor é possível. É preciso determinação, participação, conhecimento, ética, solidariedade, equidade, compromisso. Dá trabalho? com certeza, pois é preciso desacomodar, pois como diz a autora: "A participação é condição para a construção de instituições, ambientes e práticas educacionais autônomas, cidadãs e responsáveis, uma condição fundamental para a formação humano-social a que a escola de propõe."
Introdução
“A
gestão participativa se assenta, portanto, no entendimento de que o alcance dos
objetivos educacionais, em seu sentido amplo, depende da canalização e do
emprego adequado da energia dinâmica das relações interpessoais ocorrentes no
contexto de sistemas de ensino e escolas, em torno de objetivos educacionais,
concebidos e assumidos por seus membros, de modo a constituir um empenho
coletivo em torno de sua realização”. (p. 22-23)
Lück
(2008, p. 23) chama a atenção de que dar oportunidade às pessoas participarem e
assumirem-se responsáveis pelos resultados é o que estará levando-as a
construção e conquista da autonomia. Os sujeitos, dessa forma, “sentem-se parte
orgânica de uma realidade e não apenas como um apêndice da mesma, ou simples
instrumento para realizar objetivos institucionais determinados por outros.”
Luck
destaca que há gestões que se dizem participativas por chamam para reuniões,
debates, mas que são apresentam questões e decisões que já tenham uma ideia ou
uma opinião preconcebida ou em outros casos, deixam falar a vontade, sem um
esforço para uma compreensão mais profunda das questões tratadas e a
importância do coletividade em torno delas. Há, também, reuniões em que
gasta-se a maior parte do tempo em coisas fúteis, banais e secundárias e
deixa-se de discutir e decidir por questões educacionais que realmente
influenciarão mudanças educacionais.
Para a autora esses tipos de atitude é um faz-de-conta e pura
manipulação, pura perda de tempo.
1-Sentido e
formas de participação em processos de gestão
Luck
evidencia que todas as pessoas tem um poder de influenciar, mas que faltas,
omissões, descuidos e incompetência são aspectos que exercem poder negativo, responsável por fracassos e
involuções. P. 30
“a
participação em sentido pleno é caracterizada pela mobilização efetiva dos
esforços individuais para a superação de atitudes de acomodação, de alienação,
de marginalidade, e reversão desses aspectos pela eliminação de comportamentos
individualistas, pela construção de espírito de equipe, visando a efetivação de
objetivos sociais e institucionais que são adequadamente entendidos e assumidos
por todos.” P. 30-31
A
autora destaca que a participação na escola acontece de diferentes formas e
nuances:
a)a
participação como presença: é quando alguém pertence a um grupo ou organização
mas que não tem atuação ativa. Atuação passiva. “a simples presença de uma
pessoa em um ambiente, com expressões não-verbais de apatia e indiferença com a
dimensão sociocultural de sua realidade, exerce impacto negativo no mesmo.” (p.
37).
b)a
participação com expressão verbal e discussão de ideias: há reuniões em que é
dada a oportunidade para opiniões e discussões de ideias, mas na verdade é só
verbalização pois a conclusão a que se chega já havia sido determinada.
c)participação
como representação: é quando existe um grupo social muito grande e fica difícil
reunir todos, então escolhe-se, mediante, voto, uma representação que vai
representar as ideias, expectativas, direitos, valores do grupo. Nas escolas são
os conselhos escolares, associações de pais e mestres, grêmio estudantil. “
Essa forma de participação é, portanto, tipicamente praticada nas sociedades e
organizações democráticas. Ela pode , no entanto, ser expressa como um
arremendo de participação e como falsa democracia.” (p. 42)
d)participação
como tomada de decisão: são as reuniões que acontecem para tomar decisões sobre
problemas definidos pelo dirigente da escola. Deixa-se de discutir, muitas
vezes, “o papel de todos e de cada um na vida da escola, qual o significado
pedagógico e social das soluções apontadas na decisão; que outros
encaminhamentos poderiam ser adotados de modo a obter resultados mais
significativos” (LÜCK, 2008, p. 45).
e)participação
como engajamento: é o nível mais pleno de participação. “Implica envolver-se
dinamicamente nos processos sociais e assumir responsabilidade por agir com
empenho, competência e dedicação visando promover os resultados propostos e
desejados. Portanto, é muito mais que adesão, é empreendedorismo comprometido.”
p. 47
“participação,
em seu sentido pleno, corresponde, portanto, a uma atuação conjunta superadora
das expressões de alienação e passividade, de um lado, e autoritarismo e
centralização, de outro, intermediados por cobrança e controle” (LÜCK, 2008,
p.47)
2- Valores, objetivos, princípios e dimensões da
participação
“A
ação participativa, como prática social segundo o espírito de equipe, depende
de que seja realizada mediante a orientação por certos valores substanciais,
como ética, solidariedade, equidade e compromisso, dentre vários outros
co-relacionados, sem os quais a participação no contexto da educação perde seu
caráter social e pedagógico.” P.50
A
participação de todos deve ter como objetivo a melhoria do processo de
aprendizagem dos alunos e na sua formação.
Objetivos
gerais na promoção da participação: “a)promover o desenvolvimento do ser humano
como ser social (cidadão) e a transformação da escola como unidade social
dinâmica e aberta à comunidade, de modo que a educação se transforme em um
valor cultivado pela comunidade e não seja, como muitas vezes é hoje
considerada, uma responsabilidade exclusiva de governo e da escola.” P. 52
“b)
Desenvolver o comunitarismo e o espírito de coletividade na escola,
caracterizados pela responsabilidade social conjunta, de modo que esta se torne
ambiente de expressão de cidadania por parte de seus profissionais e de
aprendizagem social efetiva e de cidadania, por seus alunos.” P.53
São
objetivos específicos;
“a)Garantir
significado social às ações e práticas pedagógicas, no contexto escolar.
b)Elevar
os padrões de qualidade da organização escolar e dos resultados de seu trabalho
educacional.
c)Envolver
a família e a comunidade no processo político-pedagógico escolar.
d)Promover
o sentido de co-responsabilidade e compromisso coletivo dos participantes da
escola por suas ações.
e)Estabelecer
maior integração entre currículo escolar/aprendizagem dos alunos e a realidade.
f)Criar
ambiente formador de cidadania e aprendizagem de habilidades participativas.” P.
53
“Democracia
e participação são dois termos inseparáveis, à medida que um conceito remete ao
outro.” P. 54
A
democracia é irrealizável sem a participação, mas em alguns casos o que
acontece é participação sem democracia.
“democracia
pressupõe muito mais que tomar decisões: envolve a consciência de construção do
conjunto da unidade social e de seu processo de melhoria contínua como um todo.”
P. 57
A
democracia é condição primeira “para que a organização escolar se traduza em um
coletivo atuante, cujos deveres emanam dele mesmo, a partir de sua maturidade
social, e se configuram em expressão e identidade, que se renova e se supera
continuamente.” P. 56
“Quanto
mais nos dedicamos a atuar em nosso meio participativamente, mais nos
conduzimos para nossa realização como seres humanos plenos.” P. 63
“A
participação que se fecha em si mesma constitui ativismo. A participação que se
espraia por todas as dimensões do processo social, na intenção de
enriquecê-las, constitui-se em transformação.” P. 65
3- Promoção da
gestão escolar participativa
“É muito comum se
observar que os gestores que reclamam da incapacidade de professores em mudar
sua percepção sobre o seu trabalho resistem às novas ideias; esses diretores o
fazem, porém, expressando forte conotação reativa e de fixação em ideias
preconcebidas a respeito dos professores.
Essa,
no entanto, é uma condição que pode ser superada a partir de ação perspicaz de
gestores, de sua reflexão sobre seu próprio modo de pensar e de agir”. P. 77-78
“Aos
responsáveis pela gestão escolar compete, portanto, promover a criação e a
sustentação de um ambiente propício à participação plena no processo social
escolar de seus profissionais, bem como de alunos e de seus pais, uma vez que
se entende que é por essa participação que os mesmos desenvolvem consciência social
crítica e sentido de cidadania, condições necessárias para que a gestão escolar
democrática e práticas escolares sejam efetivas na promoção da formação de seus
alunos. Ao fazê-lo, no entanto, cabe-lhes estar atentos a resistências e saber
trabalhar com elas. Daí por que uma importante dimensão da gestão participativa
seja o trabalho com comportamento de resistência, tensões e conflitos, que
demandam do dirigente o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e
atitudes específicos.” P. 78
“A
confiança e a reciprocidade entre os membros de uma equipe constituem condição
essencial para o bom funcionamento de uma unidade social de trabalho,
caracterizada a partir do desenvolvimento da ética entre os companheiros de
trabalho e do espírito de credibilidade. Sem tais condições, o que se tem é um
grupo de pessoas que atua desarticuladamente, sem maximizar e integrar seus
esforços.” P. 92
“Quando
os gestores escolares estão mais atentos a tais situações e atuam como
formadores e mobilizadores de equipe, no sentido de canalizar as energias de
todos para a expressão de comportamentos de descrição, apoio, respeito e
confiabilidade, a escola funciona mais efetivamente.” P. 92
“A
participação pressupõem:
·
Compreensão
sobre processos e dinâmica social e habilidades de atuação nessa dinâmica
·
Espírito
de troca e reciprocidade
·
Comprometimento
com causas sociais
·
Solidariedade
e ética
·
Discernimento
e perseverança” p.98
4 – O jogo de poder na construção da
cultura escolar
“Vale
dizer que qualquer esforço por mudança que se promova na escola ameaça as
relações de poder vigentes, em vista de que provocam reações no sentido de protegê-las.
Tal fato explica ser essa instituição tão conservadora e reativa, e que os
esforços por sua melhoria e reforma do ensino resultam muitas vezes em reforço
de práticas anteriores” P. 105
“Escolas
competentes são aquelas em que o poder é disseminado coletivamente e onde se
compreende as nuances, a dinâmica e a dialética de sua manifestação entre os
pólos individual e social, equilibrando-os.” P. 106
“aumentando-se
o poder de decisão das pessoas, aumenta-se o poder de ação, de aprendizagem e
de transformação das práticas e, portanto, o poder da educação.” P. 121
LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. 4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.