No
dia 31 de dezembro, enquanto preparava a lentilha para a comemoração da virada
do ano, li o texto Política(s) e Gestão de Educação Básica: revisitando
conceitos simples da pesquisadora Sofia Lerche Vieira.
Este
texto traz discussões importantes sobre política, gestão e educação básica.
Trago, aqui algumas citações do texto, que julgo importantes.
Política, políticas
“não existem ‘políticas’ sem
‘política’. Esta por sua vez, é uma manifestação da política social.” (p. 55)
As
políticas educacionais “expressam a multiplicidade e a diversidade da política
educacional em um dado momento histórico.” (p.56)
“É verdade que muitas vezes se tende a tomar o Poder
Público como única instância de formulação de política. É, contudo, “na
correlação de forças entre os atores sociais das esferas do Estado – a
sociedade política e civil – que se definem as formas de atuação prática, as
ações governamentais e, por conseguinte, se trava o jogo das políticas
sociais”. Assim sendo, estas precisam ser compreendidas em “sua complexidade e
mutação” (Vieira ; Albuquerque , 2002).” (p. 57)
“A escola nesta perspectiva não se
reduz “a um mero reverso das políticas”, mas antes se configura como um espaço
de reconstrução e de inovação, oferecendo elementos para a formulação de novas
políticas.” (p.58)
Gestão
“As políticas que traduzem as intenções
do Poder Público, ao serem transformadas em práticas se materializam na
gestão.” (p.58)
“Por melhores e mais nobres que sejam
as intenções de qualquer gestor ou gestora, suas idéias precisam ser viáveis
(condições de implementação) e aceitáveis (condições políticas).” (p.59)
“O estoque de boas idéias de baixo
custo tende a ser limitado. Boa educação requer elevados investimentos.” (p.59)
“Em verdade, os planos de educação tendem a pecar
por dois problemas: de um lado, o excesso de propostas; de outro, a falta de
previsão orçamentária.” (p.59)
“Parte da dificuldade da gestão diz respeito ao fato
dela se situar na esfera das coisas que têm que ser feitas. E o que tem que ser
feito nem sempre agrada a todos.” (p.59)
“gestão se faz em interação com o
outro. Por isso mesmo, o trabalho de qualquer gestor ou gestora implica empre
em conversar e dialogar muito. Do contrário, as melhores idéias também se
inviabilizam.” (p.59)
“A gestão, portanto, requer humildade e
aceitação. Administrar a escassez, gerir conflitos, tomar
decisões em situações complexas. E nada
disso aparece nos manuais. A formação de “gestores reflexivos” (Vieira , 2005)
requer a preparação para atuar nessas zonas de sombra da impopularidade.”
(p.60)
Gestão Educacional
“A lei parte do pressuposto que a diversidade
nacional comporta uma organização descentralizada,
onde compete ao governo federal definir
e assegurar as grandes linhas do projeto educacional do país.” (p.61)
“A gestão educacional também depende de
circunstâncias políticas e envolve constante negociação e conflito.” (p.61)
“Segundo a LDB, a elaboração e a
execução de uma proposta pedagógica é a primeira e principal das atribuições da
escola, devendo sua gestão orientar-se para tal finalidade.” (p.62)
“São tarefas específicas da escola a
gestão de seu pessoal, assim como de seus recursos materiais e financeiros.
Noutras palavras, cabe a ela gerir seu patrimônio imaterial e material.” (p.62)
“Além dessas atribuições, e acima de
qualquer outra dimensão, está a incumbência de zelar pelo que constitui a
própria razão de ser da escola – o ensino e a aprendizagem. Assim, tanto lhe
cabe “velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente”, como
“assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas”, como
“prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento” (Inc. III, IV e
V). Esses três dispositivos remetem ao coração das responsabilidades
de uma escola. Ao exercer com sucesso
tais incumbências, esta realiza a essência de sua proposta pedagógica.” (p.62)
Gestão
educacional versus gestão escolar
“Noutras palavras, a razão de existir da gestão
educacional é a escola e o trabalho que nela se realiza. A gestão escolar, por
sua vez, orienta-se para assegurar aquilo que é próprio de sua finalidade –
promover o ensino e a aprendizagem, viabilizando a educação como um direito de
todos, conforme determinam a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases.” (p.
63)
Gestão democrática
“Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II –
participação das comunidades escolar e local
em conselhos escolares ou equivalentes
(LDB, Art. 14).” (p.64)
“A gestão democrática da escola é,
portanto, apenas um desses espaços de intervenção que se articula a outros, no
campo da política sindical, partidária e em outras formas de exercício da
cidadania e da militância.” (p.65)
Educação Básica
“É verdade que há mais dissenso do que consenso
sobre o significado de uma educação de qualidade para todos no milênio que se
inicia. Não há dúvida que esta deve ser “ao mesmo tempo prática, racional e
emocional”. Deve formar pessoas que sejam “capazes de compreender o mundo e
criar seus projetos” aproveitando as oportunidades geradas pelo cenário que se
desenha nos primeiros anos deste século (Brasla vsky , 2005)” (p. 66)
“Dentre os fatores que podem vir a
contribuir para construir essa educação, vale a pena referir aqueles destacados
por Braslavsky: 1) o foco na relevância pessoal e social; 2) a convicção, a
estima e a auto-estima dos envolvidos; 3) a força ética e profissional dos
mestres e professores; 4) a capacidade de condução de diretores e inspetores;
5) O trabalho em equipe dentro da escola e dos sistemas educacionais; 6) as
alianças entre as escolas e os demais agentes educacionais; 7) o currículo em
todos os seus níveis; 8) a quantidade, a qualidade e a disponibilidade de
materiais
educativos; 9) a pluralidade e a
qualidade das didáticas; e 10) condições materiais e incentivos socioeconômicos
e culturais mínimos.” (p.66-67)
Para finalizar
“nem sempre as idéias dos que pensam e fazem a
política, a gestão da educação e da escola convergem.” (p.67)
“é preciso ir da prática à teoria e
desta àquela tendo como norte a função social da educação e da escola.” (p.67)
“é importante insistir que as políticas
e a gestão da educação básica necessitam encontrar seu foco na essência da
tarefa educativa – bem ensinar e bem aprender – tudo fazendo para cumprir a
função social da escola com sucesso.” (p.67)
“Gestão escolar bem sucedida, portanto,
é aquela voltada para a aprendizagem de todos os alunos.” (p.67)
“O sucesso de uma gestão escolar, em
última instância, só se concretiza mediante o sucesso de todos os alunos.”
(p.67)
VIEIRA,
S. L.. Política(s) e Gestão de Educação Básica: revisitando conceitos simples. RBPAE. v.23, n.1, p. 53-69, jan./abr. 2007.
Sofia
Lerche Vieira. Licenciada em
Letras (UnB). Mestre em Educação (UFC). Doutora em Filosofia e História da
Educação (PUC/SP), com Pós-Doutorado pela Universidad Nacional de Educacion a
Distancia, Espanha. Professora visitante sênior da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e coordenadora acadêmica da
Cátedra UNESCO em Educação para a Inovação e Cooperação Solidária. Líder do
Grupo de Pesquisa Política Educacional, Gestão e Aprendizagem. Bolsista de
produtividade e membro suplente do Comitê de Assessoramento da Área de Educação
(CA-Ed) do CNPq. Membro da Comissão Assessora do INEP/MEC para o Exame Nacional
de Ingresso na Carreira Docente. Membro do Comitê Editorial da RBEP, da ANPAE e
da Editora Liber Livro. Exerceu o cargo de Secretária da Educação Básica do
Estado do Ceará. É professora titular aposentada da Universidade Federal do
Ceará e da Universidade Estadual do Ceará, onde integra o corpo docente do
Programa de Pós-Graduação em Educação. Escreve sobre política, história e
gestão da educação.
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