quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O JOGO DO CONTRÁRIO EM AVALIAÇÃO

Continuando com algumas leituras que venho realizando nesses últimos dias, sobre avaliação, trago hoje um breve resumo de outro livro de Jussara Hoffmann. É um ótimo livro para quem está disposto a iniciar um diálogo sobre uma avaliação mais mediadora.


HOFFMAN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2ª edição, 2006, 192p.

Neste livro Jussara destaca o que se tem visto é uma corrida desenfreada de instruções, de dar conta dos conteúdos, de apostilas, de atividades e dos compromissos escolares. E nessa correria muitos alunos ficam esquecidos no meio do caminho. O que pode ser feito em termos de uma avaliação mediadora é “pensar em cada aprendiz de uma sala de aula, acabando com os anonimatos, valorizando-os como sujeitos de sua própria história, assumindo o compromisso, como educadores, de otimizar tempos e oportunidades de aprender” (p. 15).
Para Hoffmann a avaliação mediadora deve acontecer em três tempos: “1. tempo de admiração dos alunos; 2.tempo de reflexão sobre suas tarefas e manifestações de aprendizagem; e 3. tempo de reconstrução das práticas avaliativas e/ou de invenção de estratégias pedagógicas para promover melhores oportunidades de aprendizagem” (p. 18-19).
A autora explica cada um desses tempos:

1- TEMPO DE ADMIRAÇÃO
“O tempo de admiração não se inicia com o ano letivo, mas antes de o professor iniciar com os alunos, pesquisando nos arquivos das instituições, resgatando suas histórias de vida, a partir de entrevistas com eles, de conversas com seus professores de anos anteriores e familiares, da análise de tarefas e da leitura de registros de avaliação” (p. 21).
Esse primeiro tempo, para a autora, é o de continuidade, o de compreender a vida do aluno, suas vivências na família, na escola, na sociedade, compreender a sua história e as suas possibilidades cognitivas.  E para isso, não existe tempo determinado, todos os dias, todos os momentos devem ser de investigação e tentarmos verificar, no aluno, às dimensões em que deve ser desafiado para avançar em todas as áreas do saber.
A compreensão do aluno se dá em vários espaços, muitos momentos de diálogo com o próprio aluno, com a família, seus amigos, colegas, professores, funcionários.
Jussara destaca que não podemos nos abater, perder nosso entusiasmo diante das incerteza, mas sim fazer a diferença, escutar, dialogar ao invés de “dados objetivos e mensuráveis que se originam de uma visão classificatória e elitista” (p. 27).
O professor precisa provocar e fazer acontecer as diferenças sejam elas de ideias, de sentimentos de expressão, de jeitos de viver e de ser. É fundamental que o professor escute seu aluno, desafie-o a escrever sobre o que sabe, o que sente, o que deseja. Buscar a aproximação e confiança do aluno estabelecendo um diálogo intenso e “dizer que se está cuidando para que aprendam mais, que se está muito preocupado com ele, carinhosamente. Sem surpresas, sem mistérios” (p. 35).
Segundo Jussara o sentido da auto-avaliação mediadora é o de que o aluno se perceba aprendendo e que ele tenha prazer e curiosidade para querer aprender mais, superando suas dificuldades.  E a autora dá algumas dicas para que isso aconteça. Fazer o aluno “participar do processo todo o tempo, desde o primeiro dia de aula, a partir do diálogo, de processos interativos, de desafios cognitivos, apontando-lhe os avanços, vibrando com ele, escutando as perguntas que faz, tornando-o mais curioso sobre tudo” (p. 36).
Hoffmann destaca a importância de que o professor faça um dossiê dos alunos arquivando tarefas, textos, testes para que se possa ter um conjunto de dados sobre sua aprendizagem.
É importante estar criando um grupo de especialistas, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos entre outros para apoiar e orientar no sentido de que direção, professores, coordenação pedagógica saibam lidar com as dificuldades de relacionamento.

2-TEMPO DE REFLEXÃO
“Predispor-se a momentos de pensar sobre o que se observa possibilita interpretar em termos didáticos, epistemológicos e relacionais as situações de aprendizagem vividas pelos estudantes, transformando as práticas avaliativas em mediadoras, no sentido de serem intencionalmente construídas na direção de seus diferentes interesses e necessidades” (p. 46).
Hoffmann destaca que “o processo avaliativo destina-se a observar, refletir e favorecer melhores oportunidades aos alunos na sucessão de etapas que constituem a dinâmica de sua aprendizagem” (p. 53)
E ela insiste na seguinte dinâmica da avaliação: Mediar a mobilização – Manter-se atento aos interesses dos alunos, ajustando as atividades, introduzindo tarefas, novos textos, mudando as situações e diversificando-as, providenciando recursos necessários. “Esse é o tempo de assegurar o interesse dele em aprender, pela organização e manutenção de um ambiente provocativo, significativo e adequado às suas possibilidades” (p. 55)
Ao trabalhar com situações interativas devemos assegurar o envolvimento dos alunos, comentando suas soluções, seus avanços, fazendo-o refletir sobre as tarefas realizadas, trabalhando em grupos para que pensem juntos sobre estratégias de resolução de problemas, cooperando pela troca de argumentos, pelos comentários e pelos desafios.
Para Jussara os trabalhos escolares devem ser em horário de aula com o acompanhamento do professor nas discussões e observe o aluno na sua individualidade. Os grupos devem ser sempre variados.
Jussara evidencia que precisamos de “olhares conscientes e reflexivos. Esse olhar reflexivo exige tempo e espaço e não pode ser solitário, mas solidário e humilde. Exige também constância e fundamentação” (p. 73)

3-TEMPO DE RECONSTRUÇÃO
Jussara relata as reformas implementadas na Finlândia e destaca que é o país que se destaca em programas de leitura; Também destaca sobre a reconstrução da educação na Malásia a partir da diversidade e da multidimensionalidade de valores de seu povo.
A autora afirma que muitos são os desafios para se colocar em prática uma avaliação mediadora: famílias que não aceitam a abolição das notas e médias; adoção de apostilas que acaba que o professor não decide as atividades, a seqüência dos temas; rotatividade de professores; formação docente(curso superior e falta de leitura e estudos)

E já finalizando...
Hoffmann acredita que não podemos ficar esperando as mudanças acontecerem, pois isso é ilusão. As condições culturais, os recursos que temos são esses. Então precisamos cuidar das nossas crianças e dos nossos jovens para que eles possam transformar o país que temos.
“Quando se toma consciência de algo, quando se entende uma questão em profundidade, em sua essência, destacando-se o que é relevante dentre o que pode ser visto e sentido, então se está avaliando este algo. Este algo, agora, parte de quem avalia. Não há como ficar de fora, passa a ser uma esperança vivida: um inédito-viável” (p. 121)

E Jussara termina a primeira parte convidando para virar o livro do avesso e começar de novo pois como diz ela, “o essencial no jogo do contrário em avaliação é DUVIDAR SEMPRE DO PRIMEIRO OLHAR!” (p. 121)


A segunda parte ......
Fica para cada um ler e postar seus comentários

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

LEITURA SOBRE AVALIAÇÃO


HOFFMAN, Jussara. Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2005, 35ª ed.revista. 104p..

Neste livro Hoffmann destaca que vários professores têm voltado suas atenções para o processo de avaliação educacional, pois “a avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação.” (p. 15)
A autora coloca que a ação classificatória e autoritária, exercida pela maioria dos educadores encontra explicação na sua concepção de avaliação que é reflexo de suas vivências como educando e como educador. Mas é preciso iniciar um diálogo, reflexões, aprofundamentos teóricos, visão ampla e detalhada de sua disciplina, para que essa avaliação seja transformada em perspectiva de construção do conhecimento, permitindo, assim, estabelecer conexões entre as hipóteses dos alunos e os conhecimentos científicos. Dessa forma “a avaliação deixa de ser um momento terminal do processo educativo (como hoje é concebida) para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento” (p. 19).
“A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa, que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade, e acompanhamento de todos os passos do educando na sua trajetória de construção do conhecimento” (p. 17). Para Hoffmann uma nova perspectiva de avaliação exige que o educador seja sujeito de seu próprio desenvolvimento, seja autônomo intelectual e moralmente, crítico, criativo e participativos. Nesse processo os erros dos alunos são vistos como significativos e importantes para impulsionar ações educativas que permitem ao professor observar e investigar os posicionamentos dos seus alunos. “Nessa dimensão, avaliar é dinamizar oportunidades de auto-reflexão, num acompanhamento permanente do professor que incitará o aluno a novas questões a partir de respostas formuladas” (p. 18-19).
Para Jussara a tarefa de avaliar não é fácil e o maior desafio está em ampliar o número de professores preocupados com o tema avaliação e que as discussões do interior das escolas se estendam a toda a sociedade. “Compreender e reconduzir a avaliação numa perspectiva construtivista e libertadora exige, no meu entender, uma ação consensual nas escolas e universidades no sentido de revisão do significado político das exigências burocráticas dos sistemas municipais, estaduais e federal de educação”(p. 24).
É preciso entender a “ação avaliativa  como interpretação cuidadosa e abrangente das respostas do educando frente a qualquer situação proposta, assim como a visão de acompanhamento, não como um caminho de certezas do professor, mas uma trajetória de entendimento, troca de idéias por ambos os elementos da ação educativa” (p. 33)
Jussara considera o ato de atribuir notas e conceitos uma arbitrariedade e que, muitas vezes, isso acontece utilizando métodos impressionistas e de comparação.“O que percebo é que a compreensão de muitos professores é de que “tudo pode ser medido”, sem que se dêem conta de que muitas notas são atribuídas arbitrariamente, ou seja, por critérios individuais, vagos e confusos, ou precisos demais para determinar situações” (p. 41). Hoffmann considera o uso de nota “um mecanismo privilegiado de competição e seleção nas escolas”. P. 45
A autora se pergunta qual a finalidade dos testes em educação? Para que serve? O que nós professores fizemos após um teste ou trabalho? Escrevemos, precisa estudar mais, ter mais atenção, respostas completas? Apontamos as dificuldades, mas não tratamos de resolvê-las. “Toda e qualquer tarefa realizada pelo aluno deveria ter intencionalidade básica a investigação” (p. 48-49).
Nesse sentido a autora destaca que as atividades e tarefas propostas aos alunos devem sofrer muitos questionamentos por parte do professor:
  • Em que medida a tarefa proposta possibilita ao aluno a organização de idéias de forma própria, individual?
  • O questionamento realizado permite a construção de variadas alternativas de solução?
  • Qual a relação que a tarefa sugere com esta e outras áreas do conhecimento?
  • As ordens dos exercícios são suficientemente claras, esclarecedoras ao aluno em termos das possibilidades de respostas? ( p. 490
Jussara registra alguns questionamentos que nós professores precisamos fazer: Por que atribuímos notas a qualquer atividade que o aluno desenvolva? Por que usamos canetas vermelhas para corrigir? Por que calendários de provas? Atestados médicos? Obrigar as crianças a usar caneta? Por que apavoramos as crianças sobre uma prova? Em que medida estamos impondo nossas respostas no momento de uma correção?  O que meu aluno compreende? Por que não compreende? Por que avaliamos?
Para Jussara o ato de avaliar é “ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre os elementos da ação educativa”( p. 57). “As respostas das crianças, dos jovens, oferecem imensas possibilidades de análise em termos de perspectivas diferenciadas e/ou contraditórias às do adulto sobre fenômenos que estão sendo estudados” (p. 56)
Jussara destaca a importância de “acompanhamento pelo professor das tarefas realizadas pelo educando em todos os graus de ensino. Só que esse acompanhar abandona o significado atual de retificar, reescrever, sublinhar, apontar erros e acertos. E se transforma numa atividade de pesquisa e reflexão sobre as soluções apresentadas pelo aluno, anotando respostas diferentes, questões não respondidas, registrando-se relações entre soluções apresentadas por ele” (p. 66)
Nesse sentido a autora destaca algumas ações no processo educativo em busca de uma avaliação mediadora visando essencialmente o entendimento: diálogo; valorização; confiança mútua; troca de conhecimento; acompanhamento; pesquisa e reflexão; investigação das soluções do educando; privilégios a tarefas intermediárias, mas sem registros burocráticos; privilégio ao entendimento e não a memorização; ações coletivas e consensual; postura cooperativa.
E para finalizar Hoffman enfatiza que “enquanto avaliamos, exercemos um ato político, mesmo quando não pretendemos. Tanto as ações individualizadas, quanto a omissão na discussão dessa questão reforçam a manutenção das desigualdades sociais. A avaliação, na perspectiva de uma pedagogia mediadora, é uma prática coletiva que exige a consciência crítica e responsável de todos na problematização das situações” ( p. 91).