terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"A gestão participativa na escola"

Essa leitura eu indico a todos os professores e gestores. 
Precisamos conhecer mais para atuarmos de forma mais participativa e democrática. Precisamos nos fartar de saberes para que consigamos melhorar a realidade em que estamos inseridos. 
Uma educação melhor é possível. É preciso determinação, participação, conhecimento, ética, solidariedade, equidade, compromisso. Dá trabalho? com certeza, pois é preciso desacomodar, pois como diz a autora: "A participação é condição para a construção de instituições, ambientes e práticas educacionais autônomas, cidadãs e responsáveis, uma condição fundamental para a formação humano-social a que a escola de propõe."


Introdução
“A gestão participativa se assenta, portanto, no entendimento de que o alcance dos objetivos educacionais, em seu sentido amplo, depende da canalização e do emprego adequado da energia dinâmica das relações interpessoais ocorrentes no contexto de sistemas de ensino e escolas, em torno de objetivos educacionais, concebidos e assumidos por seus membros, de modo a constituir um empenho coletivo em torno de sua realização”. (p. 22-23)

Lück (2008, p. 23) chama a atenção de que dar oportunidade às pessoas participarem e assumirem-se responsáveis pelos resultados é o que estará levando-as a construção e conquista da autonomia. Os sujeitos, dessa forma, “sentem-se parte orgânica de uma realidade e não apenas como um apêndice da mesma, ou simples instrumento para realizar objetivos institucionais determinados por outros.”

Luck destaca que há gestões que se dizem participativas por chamam para reuniões, debates, mas que são apresentam questões e decisões que já tenham uma ideia ou uma opinião preconcebida ou em outros casos, deixam falar a vontade, sem um esforço para uma compreensão mais profunda das questões tratadas e a importância do coletividade em torno delas. Há, também, reuniões em que gasta-se a maior parte do tempo em coisas fúteis, banais e secundárias e deixa-se de discutir e decidir por questões educacionais que realmente influenciarão mudanças educacionais.  Para a autora esses tipos de atitude é um faz-de-conta e pura manipulação, pura perda de tempo.

1-Sentido e formas de participação em processos de gestão

Luck evidencia que todas as pessoas tem um poder de influenciar, mas que faltas, omissões, descuidos e incompetência são aspectos que exercem  poder negativo, responsável por fracassos e involuções. P. 30
“a participação em sentido pleno é caracterizada pela mobilização efetiva dos esforços individuais para a superação de atitudes de acomodação, de alienação, de marginalidade, e reversão desses aspectos pela eliminação de comportamentos individualistas, pela construção de espírito de equipe, visando a efetivação de objetivos sociais e institucionais que são adequadamente entendidos e assumidos por todos.” P. 30-31

A autora destaca que a participação na escola acontece de diferentes formas e nuances:
a)a participação como presença: é quando alguém pertence a um grupo ou organização mas que não tem atuação ativa. Atuação passiva. “a simples presença de uma pessoa em um ambiente, com expressões não-verbais de apatia e indiferença com a dimensão sociocultural de sua realidade, exerce impacto negativo no mesmo.” (p. 37).

b)a participação com expressão verbal e discussão de ideias: há reuniões em que é dada a oportunidade para opiniões e discussões de ideias, mas na verdade é só verbalização pois a conclusão a que se chega já havia sido determinada.

c)participação como representação: é quando existe um grupo social muito grande e fica difícil reunir todos, então escolhe-se, mediante, voto, uma representação que vai representar as ideias, expectativas, direitos, valores do grupo. Nas escolas são os conselhos escolares, associações de pais e mestres, grêmio estudantil. “ Essa forma de participação é, portanto, tipicamente praticada nas sociedades e organizações democráticas. Ela pode , no entanto, ser expressa como um arremendo de participação e como falsa democracia.” (p. 42)

d)participação como tomada de decisão: são as reuniões que acontecem para tomar decisões sobre problemas definidos pelo dirigente da escola. Deixa-se de discutir, muitas vezes, “o papel de todos e de cada um na vida da escola, qual o significado pedagógico e social das soluções apontadas na decisão; que outros encaminhamentos poderiam ser adotados de modo a obter resultados mais significativos” (LÜCK, 2008, p. 45).

e)participação como engajamento: é o nível mais pleno de participação. “Implica envolver-se dinamicamente nos processos sociais e assumir responsabilidade por agir com empenho, competência e dedicação visando promover os resultados propostos e desejados. Portanto, é muito mais que adesão, é empreendedorismo comprometido.” p. 47
“participação, em seu sentido pleno, corresponde, portanto, a uma atuação conjunta superadora das expressões de alienação e passividade, de um lado, e autoritarismo e centralização, de outro, intermediados por cobrança e controle” (LÜCK, 2008, p.47)

2- Valores, objetivos, princípios e dimensões da participação
“A ação participativa, como prática social segundo o espírito de equipe, depende de que seja realizada mediante a orientação por certos valores substanciais, como ética, solidariedade, equidade e compromisso, dentre vários outros co-relacionados, sem os quais a participação no contexto da educação perde seu caráter social e pedagógico.” P.50

A participação de todos deve ter como objetivo a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos e na sua formação.
Objetivos gerais na promoção da participação: “a)promover o desenvolvimento do ser humano como ser social (cidadão) e a transformação da escola como unidade social dinâmica e aberta à comunidade, de modo que a educação se transforme em um valor cultivado pela comunidade e não seja, como muitas vezes é hoje considerada, uma responsabilidade exclusiva de governo e da escola.” P. 52
“b) Desenvolver o comunitarismo e o espírito de coletividade na escola, caracterizados pela responsabilidade social conjunta, de modo que esta se torne ambiente de expressão de cidadania por parte de seus profissionais e de aprendizagem social efetiva e de cidadania, por seus alunos.” P.53

São objetivos específicos;
“a)Garantir significado social às ações e práticas pedagógicas, no contexto escolar.
b)Elevar os padrões de qualidade da organização escolar e dos resultados de seu trabalho educacional.
c)Envolver a família e a comunidade no processo político-pedagógico escolar.
d)Promover o sentido de co-responsabilidade e compromisso coletivo dos participantes da escola por suas ações.
e)Estabelecer maior integração entre currículo escolar/aprendizagem dos alunos e a realidade.
f)Criar ambiente formador de cidadania e aprendizagem de habilidades participativas.” P. 53

“Democracia e participação são dois termos inseparáveis, à medida que um conceito remete ao outro.” P. 54
A democracia é irrealizável sem a participação, mas em alguns casos o que acontece é participação sem democracia.
“democracia pressupõe muito mais que tomar decisões: envolve a consciência de construção do conjunto da unidade social e de seu processo de melhoria contínua como um todo.” P. 57
A democracia é condição primeira “para que a organização escolar se traduza em um coletivo atuante, cujos deveres emanam dele mesmo, a partir de sua maturidade social, e se configuram em expressão e identidade, que se renova e se supera continuamente.” P. 56

“Quanto mais nos dedicamos a atuar em nosso meio participativamente, mais nos conduzimos para nossa realização como seres humanos plenos.” P. 63

“A participação que se fecha em si mesma constitui ativismo. A participação que se espraia por todas as dimensões do processo social, na intenção de enriquecê-las, constitui-se em transformação.” P. 65

3- Promoção da gestão escolar participativa

“É muito comum se observar que os gestores que reclamam da incapacidade de professores em mudar sua percepção sobre o seu trabalho resistem às novas ideias; esses diretores o fazem, porém, expressando forte conotação reativa e de fixação em ideias preconcebidas a respeito dos professores. 

Essa, no entanto, é uma condição que pode ser superada a partir de ação perspicaz de gestores, de sua reflexão sobre seu próprio modo de pensar e de agir”. P. 77-78
“Aos responsáveis pela gestão escolar compete, portanto, promover a criação e a sustentação de um ambiente propício à participação plena no processo social escolar de seus profissionais, bem como de alunos e de seus pais, uma vez que se entende que é por essa participação que os mesmos desenvolvem consciência social crítica e sentido de cidadania, condições necessárias para que a gestão escolar democrática e práticas escolares sejam efetivas na promoção da formação de seus alunos. Ao fazê-lo, no entanto, cabe-lhes estar atentos a resistências e saber trabalhar com elas. Daí por que uma importante dimensão da gestão participativa seja o trabalho com comportamento de resistência, tensões e conflitos, que demandam do dirigente o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos.” P. 78
“A confiança e a reciprocidade entre os membros de uma equipe constituem condição essencial para o bom funcionamento de uma unidade social de trabalho, caracterizada a partir do desenvolvimento da ética entre os companheiros de trabalho e do espírito de credibilidade. Sem tais condições, o que se tem é um grupo de pessoas que atua desarticuladamente, sem maximizar e integrar seus esforços.” P. 92

“Quando os gestores escolares estão mais atentos a tais situações e atuam como formadores e mobilizadores de equipe, no sentido de canalizar as energias de todos para a expressão de comportamentos de descrição, apoio, respeito e confiabilidade, a escola funciona mais efetivamente.” P. 92
“A participação pressupõem:
·         Compreensão sobre processos e dinâmica social e habilidades de atuação nessa dinâmica
·         Espírito de troca e reciprocidade
·         Comprometimento com causas sociais
·         Solidariedade e ética
·         Discernimento e perseverança” p.98

4 – O jogo de poder na construção da cultura escolar

“Vale dizer que qualquer esforço por mudança que se promova na escola ameaça as relações de poder vigentes, em vista de que provocam reações no sentido de protegê-las. Tal fato explica ser essa instituição tão conservadora e reativa, e que os esforços por sua melhoria e reforma do ensino resultam muitas vezes em reforço de práticas anteriores” P. 105

“Escolas competentes são aquelas em que o poder é disseminado coletivamente e onde se compreende as nuances, a dinâmica e a dialética de sua manifestação entre os pólos individual e social, equilibrando-os.” P. 106


“aumentando-se o poder de decisão das pessoas, aumenta-se o poder de ação, de aprendizagem e de transformação das práticas e, portanto, o poder da educação.” P. 121

LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. 4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário